Monday, July 11, 2011

sobre a anomalia.

Acho que tod@s que me conhecem sabe adoro o trabalho da Debora Diniz, que é antropóloga e documentarista. Professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Ela já fez curtas sobre aborto, direito ao corpo e anonimato e esquecimento de pessoas/classes sociais. E é justamente sobre o esquecimento que trata o curta que falarei.

A Casa dos Mortos (Imagens Livres, 2009)


"A casa dos mortos / das mortes sem batidas de sino."








A convite do Ministério da Saúde, Debora Diniz começou em 2006 a visitar vários hospitais de tratamento de custódia pelo país. Mas foi no HCT (Hospital de Custódia e Tratamento) de Salvador que a antropóloga escolheu (e foi escolhida) filmar. Já durante as gravações Bubu, um paciente que já contabiliza 12 internações, escreveu o poema que dá nome ao curta e que, segundo Debora, serviu de roteiro da produção. A Casa dos Mortos é uma referência aos presídios psiquiátricos do Brasil, que tem atualmente cerca de 4500 homens e mulheres institucionalizad@s.

Jaime, Antônio e Almerindo são os narradores dessa história que tem finais sempre muito parecidos: o suicídio, o ciclo de internações ou a morte social, haja vista que essas pessoas vivem totalmente preteridas pelo Estado, pela família e pela justiça. Esse abandono leva muit@s d@s intern@s a uma situação inconstitucional, pois acabam cumprindo prisão perpétua. Fato que apesar de ilegal é quase norma para @s condenad@s a cumprirem penas nos HCT.

Esses espaços representam o grande desafio do Brasil frente a reforma psiquiátrica nacional proposta em há mais de dez anos. O que comumente se vê é não só a falta de tratamento, mas também o agravamentos de distúrbios psicológicos devido a falta de terapias regulares e a promoção de reintegração entre @ paciente e a família.

Segundo Debora, o que deve ser feito é transferir a responsabilidade do tratamento à área de saúde, pois assim retiraríamos essas pessoas do mundo da medicalização e a colocaríamos no mundo social.

Abaixo o trailer do filme que pode ser visto na íntegra no site oficial.


E a poesia de Bubu, que vale muitíssimo a pena ser lida:



A Casa dos Mortos
Bubu

A casa dos mortos
das mortes sem batidas de sino.
- Cena 1 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das overdoses usuais e ditas legais.
- Cena 2 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;
é que aqui é a casa dos mortos!
***
A casa dos mortos
das vidas sem câmbios lá fora.
- Cena 3 deste filme-documentário
do mesmo destino de sempre;

é que aqui é a casa dos mortos!
***
Prá começo de conversa, são 3 cenas,
são 3 cenas anteriores e posteriores
às minhas 12 passagens
pelas casas dos mortos,
que são os manicômios;
- tenho - digamos assim ! -
surtos de loucura existencial brejinhótica,
relativos à minha cidade natal,
Oliveira dos Brejinhos - Bahia - Brasil;
voltando às cenas:
... cenas que, por si sós,
deveriam envergonhar os ditames legais
das processualísticas penais e manicomiais;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***
Pois, bem: são 3 cenas,
são três cenas repetidas e repetitivas
de um ritual satânico-sacro
com poucos equivalentes comparados de terror,
cujo estoque self-made in world
é o medicamentoso entupir de remédios,

o qual se esquece de que
A Era Prozac
das pílulas da felicidade
não produz A Era da Felicidade
da nossa almática essência de liberdade;
mas, aqui é a realidade manicomial!

***
E, ainda sobre as 3 cenas:
são 3 cenas de um mesmo filme-documentário:
Cena 1, das mortes sem batidas de sino;
Cena 2, das overdoses usuais e ditas legais;
Cena 3, das vidas sem câmbios lá fora
- que se reescrevam, então,
Os Infernos de Dante Alighieri;
mas, aqui é a realidade manicomial!
***

Reporto-me às palavras de um douto inconteste,
um doutor que rompeu o silêncio,
o jornalista Jânio de Freitas,
do jornal A Folha de São Paulo:
"A psiquiatria é a mais atrasada das ciências"
- Parafraseio Jânio de Freitas
porque a casa dos mortos,
que é a metáfora arquitetônica
pela qual designo a psiquiatria,
pede que se fale
contra si mesma!
***
E, por falar, também, em lucidez,
sou lúcido e translúcido:
a colunista-articulista Danuza Leão,
no jornal baiano A Tarde, explica:
"Lucidez é reconhecer
a sua própria realidade,
mesmo que isso lhe traga sofrimentos."
Mas, qual, ó Bubu!:
isto aqui é a casa dos mortos,
e, na casa dos mortos,
quem tem um olho é rei,
porque esta é a máxima e a práxis
da casa dos mortos.
***
Hospital São Vicente de Paulo /
Taguatinga - Distrito Federal - Brasil, abril de 1995:
o laudo a meu respeito (eu Bubu)
é categórico e afirma sinteticamente:
"O senhor Bubu é perfeita e plenamente lúcido!".
Mas, é que lá a psiquiatria é Psiquiatria Federal,
com P maiúsculo,
de propriedade patenteada
e de panteão da civilização;
enquanto que, aqui na Bahia,
a psiquiatria é psiquiatria estadual,
com p minúsculo,
de pôrra-louquice
e de prostíbulo do conceito clínico
(não custa nada afirmar:
eu Bubu fui absolvido
pela Psiquiatria Federal,
e eu Bubu fui condenado
pela psiquiatria estadual
- eis o mote da minha história!)
***
Isto é um veredicto!
- tomara que fosse um ultimatum
à casa dos mortos! 



Até!

Sunday, July 10, 2011

sobre o primeiro evento.

Agora que já garanti meu post especial da Lara, vamos aos filmes. Documentário, na verdade.


Boy interrupted (HBO Films, 2008).

"Era uma vez um menino que queria morrer..."






 
O documentário foi produzido pela HBO e dirigido por Danna Perry, cineasta que em 2005 teve de enfrentar o suicídio do filho, Evan Perry, diagnosticado com transtorno bipolar desde os 10 anos de idade. Evan expressou aos 5 anos o desejo de morrer e chegou a escrever uma peça para a escola sobre "um menino que queria morrer" e o papel principal, obviamente, pertencia a ele mesmo.

Dana remonta a vida do filho por meio de vídeos caseiros, fotos e depoimentos de familiares, amig@s e professor@s. Ao longo da produção, é possível acompanhar desde as duas institucionalizações do garoto até seus "anos de glória" (quando teve boa resposta ao tratamento com lítio, fez amizades e aparentemente havia passado da fase depressiva da bipolaridade). E um questionamento é recorrente durante todo o filme: como uma criança pode ansiar tanto pela morte? Afinal, Evan tem apenas 15 anos quando faz o que julga ser "o melhor para tod@s"

Um dos psicólogos que tratou Evan faz uma excelente colocação quanto ao transtorno que o acomete, ele diz: "O transtorno bipolar está para @ psicólog@, assim como o câncer está para @ médic@. Pois ambos quando descobertos precocemente podem ser tratados e tem boa resposta, mas em alguns casos a boa resposta é apenas um prolongamento da vida d@ paciente." E, segundo ele, Evan era um desses casos, pois mesmo com acesso ao tratamento adequado e apoio da família o mesmo buscou por fim a própria vida ainda jovem. 


O vídeo abaixo é um relato da diretora e mãe do Evan sobre a condição do filho e do porquê fazer o documentário. Infelizmente não há vídeos com legenda e o áudio é em inglês.




Até mais!

sobre o porquê.

Começando com atraso, mas finalmente começando, vamos as introduções!

Esse blog é o trabalho de conclusão da disciplina Recursos de Informática Aplicados à Formação Acadêmica e visa tratar de temas ligados a psicologia representados em filmes, curtas e documentários. E eu sou Bruna Souto, estudante de psicologia da UFF/Puro, cinéfila viciada em Woody Allen e leitora voraz viciada em Chico Buarque.



Vamos então "psicologizar" em 24 frames/segundo!